Nestes dias Olímpicos uma gama de modalidades ganha representatividade e importância, trazendo a cena atletas que marcaram tais modalidades. Essa semana escutei um dos maiores nomes no mundo em sua modalidade dizendo, "brasileiro gosta de seleção e de medalha". O nosso povo não acompanha seus atletas durante quatro anos, que colocados em segundo plano, se preparam no isolamento de seus treinamentos e retorno ao anonimato. De repente os Jogos Pan Americanos e Olímpicos os trazem de volta aos comentários nacionais e passam a carregar as esperanças de uma nação em seus ombros. Porém, a nação não se contenta com superação, determinação e resultados de acordo com a estrutura e desenvolvimento que lhe foi proporcionada.
Os atletas no Brasil passam por dificuldades que estão além de desenvolvimento humano, estrutura física e ações públicas... na verdade até que não estamos tão ruins nestas áreas. A princípio o nosso maior problema é a educação e cultura. Não me refiro as escolas e professores, mas à formação do nosso caráter e respeito à vida e admiração sem inveja.
Qualquer atleta por mais amador e sem expressão que seja já sentiu as dificuldades de praticar esporte num País sem educação esportiva. Profissionais, que cumprem sua carga de trabalho normalmente, saem de suas confortáveis camas na madrugada e antes do nascer do sol estão com suas pranchas no mar gelado, com suas bicicletas em estradas escuras e mal pavimentadas, com seus tênis em calçadas, praias ou parques ocupados por habitantes da noite que perduram embriagados, alterados e jogados até o raiar do dia. Estes atletas são chamados de vagabundos por estarem surfando, "bichas" por pedalarem com roupa de lycra justa, as moças são homenageadas de forma desrespeitosa. As mesmas pessoas que desrespeitam os que só buscam uma vida com qualidade e saudável serão as mesmas que sentarão em frente à televisão munido de controle remoto, uma lata de cerveja e um pacote de salgadinho que criticarão com veemência a colocação honrada alcançada com superação de um atleta que ficou longe de conquistar uma medalha para o País, mas conseguiu ir muito mais longe do que qualquer outra pessoa já fez em uma modalidade sem tradição no país.
Nestes dias Olímpicos se pergunte se você tem o direito de acompanhar, torcer e criticar heróis nacionais em seus momentos de apogeu e glória. Reflita sobre o que você fez nos últimos seis meses para permitir que alguém praticasse sua atividade física. Com certeza o rapaz irresponsável que, alcoolizado, atropelou dois atletas pedalando em Florianópolis após passar a noite estragando sua própria vida, estará sentado na frente da televisão e criticará os ciclistas e triatletas brasileiros que não trarão medalha.
Denis Pierry 07/08/2008
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